
Imagine uma canção que surge de um reencontro com palavras escritas, memórias dolorosas e um momento inexplicável — uma semente celestial que brota dentro de casa. Essa é a essência de “Orpheus”, a última faixa do álbum Lost Americana (lançado em 8 de agosto de 2025) por Machine Gun Kelly.
O nascimento da canção: entre notas de amor e poesia
Durante uma entrevista à Apple Music com Travis Mills, MGK revelou que se orgulha profundamente de Orpheus. Ele explicou que, embora a canção tenha o crédito “co-escrita por Colson Baker e Megan”, foi escrita inteiramente por ele.
O crédito de Megan Fox existe porque ele incorporou notas de amor do livro de poesias dela — um livro que foi escrito durante anos ao longo de seu relacionamento. Essas palavras, resgatadas de um cofre emocional, se transformaram em versos carregados de significado  .
Ele descreve: “A escrita dela é intocável. Eu chorei enquanto fazia essa música, porque reler uma história de amor tão apaixonante, com altos e baixos…” E é nessa vibração que a canção ressoa — com verdade, vulnerabilidade e reverência.
O primeiro verso é uma pintura poderosa: “Nós plantamos uma árvore lá no jardim com uma semente celestial que caiu para nós das estrelas.”
Essa linha remete a um momento doloroso — um aborto espontâneo. Na tentativa de superar o pesar, MGK e Megan escreveram uma carta ao bebê que perderam, queimaram-na, e espalharam as cinzas ao vento. Depois, já dentro de casa, encontraram uma semente gigantesca sobre a lareira — impossível de ter entrado por acaso. Um milagre que se tornou semente de inspiração dentro da música  .
Entre mitologia e realidade
Orpheus evoca o mito grego de Orfeu e Eurídice: o músico que desce ao submundo para resgatar sua amada, mas acaba perdendo-a ao olhar para trás por desespero. MGK costura essa tragédia com sua própria narrativa de amor, perda e desejo — linhas como “algum dia eu vou te achar de novo” e “é uma tragédia, e todos nós já vimos essa cena” ressoam com esse eco mítico e real ao mesmo tempo  .
Reflexão e fala da crítica
Além de seu impacto emocional, Lost Americana em si é um mergulho confessional na crise, no retrato da paternidade, na angústia da fama e da recuperação — tudo isso com referências musicais variadas, que vão de The Who a Goo Goo Dolls e Kate Bush  .
O fato de Megan Fox receber crédito por Orpheus legitima o papel dela nesse processo — embora não como coautora musical direta, mas como inspiração poética e emocional
Orpheus não é apenas uma música — é uma cápsula de memórias, um ritual de cura, uma confissão sem filtros. Machine Gun Kelly, mais sóbrio e vulnerável do que nunca, não apenas revisita um amor que o transformou, mas também reescreve o papel que a dor pode ter na arte: ela não precisa apenas destruir, ela pode florescer — como uma semente celestial nascida do improvável.
Em meio ao caos de relacionamentos, perdas e reconciliação consigo mesmo, Orpheus se torna aquilo que toda grande canção almeja ser: um reflexo honesto da alma de quem a escreveu — e um espelho para quem escuta.