
Se nos álbuns anteriores MGK construía mundos com a intensidade de quem grita para sobreviver, Lost Americana é o som de quem finalmente baixa o vidro do carro e deixa o vento bater na cara. Não é que ele tenha perdido a angústia – ela está lá, mas agora é acompanhada de um sorriso torto e refrões que soam como respiro, não como desabafo.
É impossível ouvir Lost Americana sem lembrar da densidade emocional de Hotel Diablo (2019), onde a dor era motor narrativo; ou da força teatral de Tickets to My Downfall (2020) e Mainstream Sellout (2022), onde MGK abraçou o pop punk como forma de exorcizar vícios, traumas e crítica social. Nesses álbuns, tudo era sobre contar uma história – capítulos bem marcados, conflitos evidentes, e uma persona construída com precisão.
Já em Lost Americana, não há um arco dramático tão claro. E isso é libertador. Aqui, MGK não está performando um personagem ferido – ele está simplesmente… vivendo. Rindo de si mesmo. Inventando narrativas dentro de faixas soltas que não precisam, necessariamente, formar um todo. O storytelling não desapareceu — ele só não carrega mais o peso do mundo nas costas.
É como se o disco fosse uma road trip americana pós-pandemia: caótica, solar, sem pressa, sem Waze. “Miss Sunshine” é o ápice dessa leveza – uma faixa que não tem a pretensão de ser icônica, mas que gruda e transmite calor. Em “Cliché”, MGK se permite brincar com o estereótipo do pop punk — e, paradoxalmente, renova o gênero ao tratá-lo com ironia e afeto. Já “Starman”, com interpolação de Semi-Charmed Life, resgata aquele alt-rock radiofônico dos anos 90 que muitos fingem não amar.
Apesar da vibe ensolarada, Lost Americana não abandona a introspecção. Faixas como “Treading Water” e “Indigo” são herdeiras legítimas de Diablo — mostrando que o MGK lírico ainda vive ali, mais contido, mais maduro, e, ironicamente, mais potente. São nesses momentos que o álbum revela profundidade, mesmo sem se anunciar como “conceitual”.
Lost Americana não precisa provar nada pra ninguém — e MGK, pela primeira vez, parece saber disso. É um álbum que solta as amarras do conceito, das expectativas e das fórmulas. Em vez de entregar uma ópera punk ou um diário escuro, ele entrega um disco feito para ouvir com os pés no painel do carro. Não o melhor tecnicamente, talvez não o mais impactante… mas, com certeza, o mais feliz.